João Artacho Jurado (1907 – 1983) foi um empresário paulista, proprietário da Construtora Monções. Foi responsável pela construção de diversos edifícios residenciais na cidade de São Paulo, principalmente na região de Higienópolis. Começou a trabalhar na década de 1930 e sua produção se aprofundou nas décadas de 40 e 50. Apesar de não ser arquiteto, Artacho Jurado idealizava os prédios e pedia para algum arquiteto assinar as plantas. Artacho não frequentou escolas pois seu pai, que era anarquista, se recusava a deixar seu filho jurar a bandeira, cerimônia obrigatória nas escolas da época.
Sua arquitetura reflete os sonhos hollywoodianos do pós-guerra em uma mistura de estilos e linguagens: o moderno, o nouveau, o déco e o clássico. Visando a classe média-alta e alta, seus edifícios eram projetados com uma série de serviços e opções de lazer: piscina, terraço com bar na cobertura, onde eram promovidas as festas de inauguração. Constantemente fiscalizado pelo CREA, nas placas de suas obras seu nome não podia figurar em tamanho maior do que o nome do engenheiro responsável. No entanto, Artacho Jurado dificilmente obedecia à imposição, aumentando a ira de alguns arquitetos, que consideravam ultrajante sua atuação profissional, visto que ele não era arquiteto formado. O reconhecimento de suas obras foi tardio, uma vez que nunca lhe foi permitido assiná-las.
Jurado gostava de inovar, e usou nos edifícios muito azul, rosa, verde, dourado e preto, às vezes tudo ao mesmo tempo. Também foi grande influência na utilização do terraço como espaço nobre, em uma época em que a ideia ainda não era popular. Os terraços de seus projetos geralmente se sobressaem, com coberturas projetadas para fora do prédio e cores diferentes.
O Edifício Bretagne, sua obra prima, foi inaugurado com grande pompa e trouxe o ator Roy Rogers, diretamente de Hollywood, para participar da festa. O glamour de Hollywood no pós-guerra era uma grande influência para Jurado, que utilizava pastilhas coloridas, arabescos e grandes portas de vidro em suas obras. O glamour e o sonho também estão presentes no nome dos prédios, como o Edifício Cinderela, em Higienópolis, e o Edifício Louvre, que possui oito torres, cada uma homenageando um artista do Louvre, no centro.
Para apreciar a arquitetura de Artacho com tranquilidade, você pode fazer um lanche no Paribar, na Praça Dom José Gaspar, enquanto observa a imponência do condomínio Louvre. Recomendo experimentar o creme de limão siciliano. Da calçada do Louvre, você poderá avistar mais à frente a forma imponente do Edifício Viadutos e, a poucas quadras de distância, está o Edifício Duque de Caxias, na rua Barão de Campinas.
Para continuar o passeio a pé, a partir do Edifício Duque de Caxias suba a rua Dr. Veiga Filho e vá até a rua Piauí, 428 (a caminhada será de aproximadamente 2km). Aproveite para apreciar o Edifício Piauí, o primeiro prédio de Jurado fora do eixo do centro, e, depois, descansar no Parque Buenos Aires, charmosa área verde do bairro Higienópolis. Em Higienópolis, você também pode ver o Apracs (que lido de trás para frente é Scarpa, nome da família que encomendou o empreendimento), o Parque das Hortênsias, oCinderela, o Edifício Planalto e o Bretagne, a poucas quadras de distância um do outro.
Termine o passeio na Avenida Paulista e repare no contraste entre o estilo do Edifício Saint-Honoré e os modernos prédios espelhados das grandes corporações. Se ainda tiver tempo, visite a FIESP, logo na esquina, que sempre tem programação cultural e exposições interessantes. A arquitetura de Artacho, que foi duramente criticada em sua época, hoje é um ícone internacional do pós-moderno, com grandes espaços verdes, ventilação, iluminação natural e áreas de convivência para os moradores.
Principais edifícios
- Edifício Duque de Caxias – 1947 – Rua Barão de Campinas, 243 (esquina com Duque de Caxias), Centro
- Edifício Pacaembú – 1948 – Av. General Olímpio da Silveira, 386, Santa Cecília
- Edifício Piauí – 1949 – Rua Piauí, 428, Higienópolis
- Edifício Apracs – 1957 – Originalmente chamado “Edifício Parque das Acácias” – Av. Higienópolis, 578, Bairro Higienópolis
- Edifício Cinderela – 1956 – Rua Maranhão, 163 (esquina com Rua Sabará), Higienópolis
- Edifício Viadutos – 1956 – Viaduto Maria Paula, Centro
- Edifício Planalto – 1956 – Rua Maria Paula, Consolação
- Edifício Parque das Hortênsias – 1957 – Av. Angelica, 1106, Higienópolis
- Edifício Saint-Honoré – 1958 – Av. Paulista, 1195, Jardim Paulista
- Edifício Louvre – 1958 – Av. São Luiz, 192, Centro
- Edifício Bretagne – 1959 – Av. Higienópolis, 938, Higienópolis
- Edifício General Jardim – 1951 – Rua General Jardim, 370 (esquina Rua Amaral Gurgel)
- Em Santos:
- Edifício Parque Verde Mar – 1957 – Santos
- Edifício Enseada – Santos – Av. Bartolomeu de Gusmão
- Edifício Nosso Mar – 1955 – Santos
Curiosidades
- A revista inglesa Wallpaper apontou o Bretagne como um dos melhores edifícios para viver no mundo.[2]
- Ao tombar o Edifício Viadutos, o Patrimônio exigiu a retirada do luminoso,[3] que foi concebido no projeto original para aplacar os custos codominais.[2] [3]
- O Parque das Acácias, que foi concluído pela família Scarpa, tem, entre seus destaques arquitetônicos, um grande pátio de colunas próximo ao jardim, cujo teto é significativo: no teto pastilhado foram produzidos desenhos em formas que lembram “amebas” coloridas.
- O Edifício Viadutos possui 12 elevadores.[4] [5]
- O Viadutos foi um dos primeiros edifícios na cidade a possuir painel luminoso em sua cobertura.[5]
- O filme “Domésticas”, de Fernando Meirelles e Nando Olival (2001) foi rodado no Edifício Cinderela.[3]
- Há um CD-ROM sobre a vida e a obra de Artacho Jurado chamado de “uma Arquitetura Cênica” de 1999, autoria de Ricardo Barreto e Paula Perissinoto. O CD-ROM, foi realizado a partir de uma série de documentos pertencentes ao arquivo pessoal de João Artacho Jurado. Contempla 106 fotos da época de prédios construídos pelo o arquiteto e seu irmão Aurélio Artacho, além de desenhos e plantas de sua autoria.
Fonte: Wikipedia e Viajante Brasileiro.
