Em 1951, o arquiteto carioca Sérgio Bernardes, então com apenas 32 anos de idade, projeta uma residência que se destaca por sua singularidade no panorama arquitetônico brasileiro. Em estrutura e telhas metálicas, muito leves, era vedada por pedra bruta, vidro e tijolo. A cobertura original era em sapê, resultando numa mistura de materiais inusitada para a modernidade arquitetônica da época.

A casa localiza-se no alto de um terreno pedregoso, com topografia acidentada, densa vegetação nativa e um pequeno riacho. O arquiteto adota um partido em alas, que se dispõem ao longo de um eixo longitudinal leste-oeste. Esse eixo é traduzido em planta como uma circulação alongada e ampla, com rampa numa extremidade e escada na outra, que funciona como galeria de exposições para a coleção artística de Lota.

São quatro as alas que se distribuem ao longo de tal galeria: zona de hóspedes e serviços a oeste, próxima ao acesso principal; zona de jantar e cozinha a sul, junto ao morro; zona de estar e escritório a norte, numa ala transversal; zona íntima da proprietária a leste, incorporando uma grande pedra existente no terreno, que deixa o volume da ala em balanço sobre o riacho. Assim composta, a planta adapta-se à topografia do terreno e preserva ao máximo a vegetação. O perímetro resultante é irregular e o volume aditivo.

O sistema construtivo eleito para a casa de Lota foi pensado para ser executado in loco, com a precária mão de obra disponível. Os pilares metálicos, dispostos a cada três metros, são em perfil duplo-T no volume longitudinal da casa e formam pares de colunas gêmeas no avarandado do volume transversal. Os telhados são inclinados em uma água, em direções diferentes num e noutro volumes. As treliças da cobertura foram montadas no canteiro de obras a partir de dois elementos soldados entre si: vergalhões de ½’’, usualmente empregados no interior de peças de concreto armado, dobrados em V e pintados de branco; barras de ¼’’ x 1’’, dispostas na horizontal e pintadas de preto. Sobre essa estrutura, foram dispostas telhas de alumínio onduladas, que receberam, originalmente, a cobertura de sapê. A ausência de forro faz com que telhas e vigas treliçadas compareçam internamente aos ambientes.

À leveza e imaterialidade da estrutura metálica, absolutamente arrojada para o Brasil da época, são associados materiais bastante convencionais ou até mesmo rústicos, como a pedra, o tijolo e o sapê. As paredes de pedra e tijolo, além da função de vedação, funcionam como suporte para o telhado em pontos onde não há pilares. A pedra bruta e irregular é usada em algumas paredes estrategicamente situadas em zonas sociais e também na base da casa.

A Casa Lota de Macedo Soares, com forma e espacialidade modernas, foi a grande pioneira no uso de estrutura metálica no país. A ela, o arquiteto agregou materiais tradicionais, deixando claro que modernidade e tradição são, não apenas compatíveis, mas capazes de formar um elegante conjunto. Hoje, encontra-se preservada praticamente em sua forma original, não aberta à visitação pública.

Fonte: Archdaily

 

01 2-lota-cortes_trans 03 3-lota-corte_longit 04 4-lota-elevac%cc%a7a%cc%83o_norte 05 5-lota-elevac%cc%a7a%cc%83o_oeste 06 6-lota-geral 7-lota-parc-oeste 8-lota-vista_sul 9-lota-det-cobert 10-lota-varanda 11-lota-galeria 12-lota-parc-norte 13-lota-estar 17-lota-pilar_duplo_t 18-1-lota-pilar_gemeo 18-2-lota-pilar_gemeo 19-lotta-vigas 20-lota-vista_oeste 21-lota-planta 24-lota-ala_intima 25-lota-galeria 26-lota-parcial_norte 27-lota-parcial_leste 28-lota-parcial_norte